Passado o período da Copa do Mundo, muito se tem falado das impressões que os estrangeiros tiveram sobre o nosso país, nossa gente e nossa cultura. Mas, além de relatos de pessoas que passaram um tempo aqui, durante o maior evento esportivo do mundo, nesta entrevista, temos os relatos de uma estrangeira que aqui viveu.
Ela é a Elise, uma norueguesa que viveu durante um ano em Vitória, capital do estado do Espírito Santo.
Muito gentilmente, ela respondeu as nossas perguntas com palavras de muita substância e repletas de elogios ao nosso país!
Ela preferiu responder em inglês, e as respostas que se seguem são a original dela e a traduzida para o português... As fotos foram tiradas de seu facebook e de seu blog (http://eliseinbrazil.blogg.no/)
Espero que gostem, pelo menos tanto como eu gostei!
O que fez você querer fazer um intercâmbio? (Why did you decide to do an exchange year?)
Minha família sempre foi apaixonada por viajar. Conhecemos o mundo inteiro, dos templos na Tailândia ao Sears Tower in Chicago, EUA. Para a minha família, explorar o mundo e obter experiências disso é mais importante do que ter um bom carro, ou um telefone caro.
O motivo de eu ter decidido ser uma intercambista tem então muito a ver com a minha família. Minha mãe foi uma estudante intercambista nos Estados Unidos e minha irmã foi para Banguecoque na Tailândia. As duas recomendaram que eu fizesse um intercâmbio. Elas me disseram que é uma experiência de vida, uma oportunidade única. Então, essa decisão de me tornar uma estudante intercambista foi fácil para mim.
My family has allways been a fan of travelling. We have seen the whole world all from the temples in thailand to the sears tower in chicago, USA. For my family, exploring the world and get experiences has been more important than having a nice car or an expencieve telephone.
Why I decided to do an exchangeyear has a lot to do with my family. My mom was an exchangestudent in USA and my sister went to Bangkok in Thailand. They both recommended me to do an exchangeyear. They told me it was an experience for life, a one in a lifetime opportunity. Therefore it was an easy decision to make to become an exchangestudent.
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A linda Elise! |
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A família norueguesa de Elise |
Sempre fui fascinada pela América Latina, pela música, pela felicidade das pessoas e, claro, pelo idioma. Então, quando a AFS (Organização Internacional de Intercâmbios) me perguntou para qual país eu gostaria de ir, eu disse Argentina ou Brasil. Depois de alguns meses eu recebi a mensagem deles dizendo que encontraram uma host family para mim no Brasil, em Vitória. Eu nunca havia ficado tão empolgada em toda a minha vida!
I have always been fascinated by latin america, the music, the happy people and ofcourse the language. So when AFS (the exchange organization) asked me what country I wanted to travel to I said Argentina or Brazil. After a couple of months I got the message that they had found a host family for me in Brazil, Vitória. I had never been more excited in my whole life.
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Elise em Vitória! |
Durante o meu ano como intercambista, eu tive a oportunidade de ter não só uma, mas duas host families. A primeira vivia na Ilha do Boi, um dos bairros mais ricos de Vitória. Os meus host parents eram advogados, e viviam com as suas três filhas: Agnes, Anna-Louisa e Alice.
Alice tinha apenas 3 meses quando cheguei. Agnes era a única que falava inglês, apesar da minha host mother saber falar algumas palavras, o que permitia a nossa comunicação. My host dad, Ricardo, não sabia nada de inglês, mas ele era um homem muito divertido e tentava ao máximo se comunicar comigo por meio de linguagem corporal. Mesmo sendo uma boa família, eu só fiquei com eles alguns meses. Depois de três meses em Vitória, a mãe de Ricardo ficou muito doente, e precisou ficar com a família por um tempo. E por causa da falta de espaço, minha família pensou que seria melhor para mim que eu mudasse para uma nova família brasileira. Aquilo foi um choque para mim. Eu nunca imaginei que eu poderia deixá-los tão cedo.
Minha segunda família vivia em um pequeno apartamento no bairro Mata da Praia. A família era formada pela minha host mom, Sandra, minha irmã Abigail e minhas duas tias, Tia Dica e Tia Magui, que era como eu as chamava. Essas pessoas maravilhosa realmente se tornaram minha família brasileira, e agradeço a eles por terem tornado meu intercâmbio uma aventura melhor que eu poderia ter imaginado.
During my exchangeyear I got the opportunity to have, not only one, but two great hostfamilies. My first family lived at Ilha do Boi, in one of the richest neighborhoods in Vitória. Both of my hostparents were lawyers, and lived with their three daughters; Agnes, Anna-Louisa and Alice. Alice were only 3 months old when I arrived. Agnes were the only one who could speak english, though my hostmother, Elaine, knew a couple of words so we could communicate. My host dad, Ricardo, didn't know any english at all, though he was a very funny man and tried to communicate as best as he could with his bodylanguage. Though my family seemes nice, I was only to stay there a couple of months. After three months in Vitória, Ricardo's mom got very ill, and needed to stay with the family for a while. And because of the lack of space, my family thought it would be best for me if I moved to a new brazilian family. It was like a shock to me. I had never imagined that I would leave this family so soon. My second family lived in a smaller apartment in Mata da Praia. A family that consisted of my host mom, Sandra, my sister Abigail and my two aunts Tia Dica and Tia Magui, as I used to call them. These wonderful people truly became my Brazilian family, and thanks to them my exchangeyear became an adventure better than I ever could imagined.
Eu estudei em uma escola chamada IFES (Instituto Federal do Espírito Santo). As pessoas da minha turma eram maravilhosas, e agradeço a eles por nunca deixarem os meus dias na escola serem chatos. No começo, eu tentei prestar atenção nas aulas, mas como eu não entendia nada de português, era muito difícil para mim aprender alguma coisa. Meus companheiros de turma tentavam ao máximo me ajudar, mas depois de um tempo eles tinham que prestar atenção nos seus próprios estudos.
Como eu não entendia nada dos que os professores diziam, eu decidi que usaria todas as aulas na escola para aprender português. Então eu passei todas as aulas que tive nos primeiros três meses de intercâmbio aprendendo as palavras e a gramática da língua portuguesa. Depois de três ou quatro meses, eu pude finalmente entender algumas coisas do que os professores diziam durante as aulas, e o principal do que os meus companheiros de turmas diziam. Muitos deles não falavam inglês, então o aprendizado da língua portuguesa era o passo mais importante para realmente conhecê-los.
As I didn't understand anything of what the teacher said, I decided that I would use all the classes in school to learn the language. So I spend every class I had during my first three months in my exchangeyear learning all the words and grammar of the portuguese language. After about 3-4 months I could finally understand something of what the teacher said during the classes, and most important what my classmates were saying. There were many that didn't speak english, and therefore learning the language was the most important step to really get to know my classmates.
Você desenvolveu alguma(s) atividade(s) além da escola? (Did you do another activities besides school?)
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Assim como na Noruega, Elise continuou praticando ginástica olímpica no Brasil |
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Elise aprendeu a sambar, e de quebra saiu em uma reportagem no jornal |
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Desfile de Carnaval |
The language. Before I could speak portuguese I felt very lonely. It was hard to be among so happy and warm brazilian people that laughed and had a good time without being able to understand what they were talking about.
Por onde posso começar... Há tantas diferenças que eu realmente não sei qual é a maior.
A comida foi a primeira diferença que notei. Na Noruega, estou acostumada a comer muito no café da manhã, pouco no almoço e muito no jantar. No Brasil, o hábito era completamente ao contrário. Os brasileiros comem pouco no café da manhã, muito no almoço e pouco no jantar. E nos meus primeiros meses no Brasil, eu sentia que a única coisa que eu fazia era comer. Essa talvez tenha sido a razão por eu ter ganhado tantos quilos no começo do meu intercâmbio. Eu acordava de manhã, comia muito (eu gosto muito de frutas, então todas as manhãs eu experimentava todas elas - goiaba se tornou a minha favorita!), e depois de poucas horas eu comia ainda mais no almoço. E mesmo comendo como um monstro, meu host father me perguntava o motivo de eu comer tão pouco. Em apenas três meses, eu ganhei 5 quilos.
Where shall I begin. There were so many differences that I don't really know which one is the biggest.
Meus lugares favoritos foram definitivamente a Bahia e o Amazonas. Bahia com a sua bela costa, amáveis praias e as pessoas felizes. Minha viagem para o Amazonas foi algo muito especial. Ter estado tão perto da natureza bela e cheia de vida foi uma experiência que eu lembrarei pelo resto da minha vida.
Rio de janeiro, Bahia (Porto seguro, Arrail d'Ajuda) São Paulo, Amazon, Cachueiro, Domingos martins.
It would take me days to describe in detail the places I visited in Brazil. Every city and state has their own unique and special type of culture, and are different from all the other states in the country. One of my favorite places was definitely Bahia and the Amazon. Bahia with it's beautiful cost, the lovely beaches and most of all the happy people. My trip to the Amazon was something really special. Being close to a nature that beautiful and full of life is an experience I will remember for the rest of my life.
"O beijo brasileiro"
Uma das minhas experiências mais chocantes que tive no Brasil, foi conhecer a "cultura do beijo" que os brasileiros tem. Se você for em alguma festa, você provavelmente conhecerá alguém que te interesse e talvez beije-o uma ou duas vezes durante a noite. Na maioria das culturas, você geralmente beija apenas uma pessoa. Mas, no Brasil, beijar uma pessoa é raramente suficiente para a maior parte das pessoas, que se sentem sortudas por beijar cinco ou mais pessoas durante uma festa, o que foi uma situação muito nova pra mim. Claro que, depois de um tempo, eu me adaptei a esse costume brasileiro especial, mas no começo fiquei mais do que chocada.
Mas nada se compara à primeira vez que fui em uma Micareta. Meu Deus, eu nunca vou esquecer essa noite! Uma grande festa, onde as pessoas ficam em uma espécie de competição por quem beija mais. Os garotos beijam umas trinta garotas, enquanto as garotas beijam uns dez. Para mim, um garoto era mais do que suficiente. Isso foi, definitivamente, umas das mais loucas, divertidas e assustadores festas em que estive no Brasil!
"O Biquíni Brasileiro"
Essa é outra história que quero contar. Nós todos ouvimos sobre o biquíni brasileiro, mas você nunca saberá realmente como ele é, até você realmente estar lá. Eu amo o jeito que o brasileiros amam mostrar os seus corpos em biquínis. Eles parecem tão orgulhosos de seus corpos, que se você colocar um, é como se o seu corpo todo estivesse sorrindo. Eu me lembro da primeira vez que fui comprar um biquíni brasileiro. Eu fui com a minha host mom Sandra a uma loja de biquínis para encontrar um perfeito biquíni brasileiro. Isso não foi fácil como eu pensei que seria. Cada um que eu experimentava parecia ser pequeno. Eu sabia que o biquíni seria pequeno, mas eu continuava querendo cobrir o que supostamente deveria ser coberto. Depois de experimentar uns cem biquínis, eu finalmente encontrei um que eu realmente tivesse gostado. Ele continuou sendo pequeno na minha opinião, mas eu achei que eu poderia usá-lo sem me sentir tão exposta. Eu mostrei o biquíni pra Sandra e ela ficou me olhando por um bom tempo. E então ela disse "este biquíni é grande, Elise". Eu lembro que comecei a rir... Se tivesse sido minha mãe norueguesa, ela provavelmente diria que ele era pequeno ou algo do tipo. Eu me senti sortuda por ter duas mães que eram tão diferentes uma da outra. Eu não liguei para o que ela disse e comprei o biquíni e ele continua sendo o meu favorito.
“The Brazilian kiss”
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Elise e sua irmã brasileira Abigail prontas pra micareta!
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Eu ainda tenho contato com a minha primeira e a minha segunda host family, e eu já os visitei duas vezes depois do meu intercâmbio. Eles são minha segunda família e eu nunca irei esquecê-los ou esquecer o que fizeram pra mim.
Eu também tenho muitos bons amigos, e é bem difícil estar tão longe deles e não conseguir vê-los todos os dias como eu costumava ver. Sinto muita falta principalmente dos meus companheiros de turma, e eu nunca poderia ter passado o meu ano no Brasil sem eles. Continuamos nos comunicando por facebook, e às vezes eu falo com eles por Skype. Mas claro que é difícil manter contato quando se está tão longe e vivendo vidas tão diferentes. Mas a melhor parte é que sei que sou sempre bem-vinda quando volto ao Brasil, e isso significa o mundo para mim.
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Em Itaúnas - ES |
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Fazendo as famosas panelas de barro capixabas |
Meu ano como intercambista no Brasil me mudou como pessoa. Eu não sei o que eu poderia ser hoje se eu não tivesse vivido no Brasil. Eu acho que o Brasil me fez ser mais aberta e mais feliz como pessoa, principalmente graças aos brasileiros. Eu aprendi a lidar com situações difíceis, como viver em um lugar sem saber o seu idioma, conviver com a falta do meu país, ser parte de uma nova família e me tornar uma brasileira. Isso não foi tão fácil. Eu derramei muitas lágrimas, e em alguns momentos eu não sabia como parar.
3 comentários
Entrevista divertidíssima, adorei. A gente se esquece do tantão de coisa boa que tem aqui
ResponderExcluirQue bom que ela teve muitas boas impressões do nosso país, fico feliz!
ResponderExcluirEspero algum dia fazer intercâmbio para algum outro lugar também, afinal você não sabe como é, até conhecer, não? haha :)
Beijos
http://www.blogpeccos.com
Instagram: @blogpeccos
Ela passeou muito pelas minhas terinhas capixabas <3 kkkkkk linda demais!
ResponderExcluirBeijinhooooss!
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